Reflexão - Santa Isabel da Hungria
Queridos irmãos em Cristo Jesus e Francisco de Assis, que o Senhor nos dê a sua Paz!
Estamos
vivendo a 33º Semana do Tempo Comum, a penúltima do ano litúrgico. Justamente
nesse domingo, desde 2017, foi estabelecido o dia Mundial do Pobre, pelo Papa
Francisco, em sua Carta Apostólica Misericordia et Misera, emitida em 20
de novembro de 2016, para comemorar o fim do Jubileu Extraordinário da
Misericórdia.
O Santo Padre nos convidou a
uma profunda reflexão sobre a condição socioeconômica dos mais empobrecidos, os
preferidos do Pai das Misericórdias. Diante dessa celebração, nada mais oportuno
do que, durante esta semana, precisamente no dia de hoje, 17 de novembro, celebrarmos
a memória de nossa amada padroeira, Isabel da Turíngia, ou de Hungria, como
queiram.
Isabel, filha de André II, soberano da Hungria e de Gertrudes de Merância, nasceu em 1207, na cidade de Saros-Patak (atual Bratislava) e, desde muito pequena, teve sua vida destinada a grandes feitos. Segundo contam, Klingsohr da Transilvânia, um trovador medieval, no distante Reino da Turíngia, durante uma festa, profetizou ao então conde Hermano I com as seguintes palavras: "Vejo uma estrela que se levanta da Hungria, que brilhará aqui nesta terra e depois no mundo inteiro, pois hoje nasceu na Hungria uma menina que será santa. Ela será esposa de seu filho quando crescer e será famosa no mundo inteiro."
Diante de tal
maravilha, o soberano mandou uma comitiva até a Hungria e fez um acordo com o
soberano, André II. A menina Isabel foi para a Turíngia com apenas 4 anos para,
futuramente, se casar com o Infante Hermano. Nesse tempo de espera, aconteceu o
imprevisto: faleceu o infante e, em seu lugar, o soberano colocou seu segundo
filho, Luís. Com a morte de seu pai, em 1217, Luís casou-se com Isabel e
assumiu o trono da Turíngia.
Os biógrafos da
santa contam que eles viveram um amor intenso, belo e verdadeiro, desde o
primeiro momento. Tiveram três filhos: Hermano, Sofia e Gertrudes. Há relatos
de que, como governante, Luís IV se mostrou sábio, forte, corajoso e justo. E
Isabel, sua amada esposa, partilhava com o marido as suas intenções de cuidados
especiais com os mais pobres do seu povo, baseados em fortes princípios
cristãos.
Nesse tempo, em
Assis, na Itália, florescia uma nova espiritualidade, que influenciou
fortemente a religiosidade alemã. Admirada pelos exemplos de
Francisco e Clara de Assis, que vinham ao encontro de seu pensamento de cuidado com os
mais pobres, Isabel se aproximou dessa espiritualidade, querendo viver a pobreza
voluntária total. Porém fora desaconselhada pelo seu diretor espiritual,
Conrado de Marburgo, que propôs que vivesse as virtudes do seu estado de vida.
Como nada na vida dos santos é fácil, não seria diferente na vida de Isabel. Por causa de seu amor correspondido pelo seu amado e seu jeito amoroso de tratar o povo, Isabel era amada pelos seus súditos e odiada pelos parentes de seu esposo. Sua sogra, a duquesa Sofia, e seus cunhados, Henrique Raspo, Conrado e Inês, faziam de tudo para indispor Isabel com o soberano Luís. Ela, no entanto, sempre os perdoou e escondeu tudo isso de seu esposo. Até mesmo a maneira pródiga com que ela cuidava dos pobres, mesmo com a bênção de seu esposo, irritava profundamente seus cunhados.
Sua cruz pesou ainda mais quando, a caminho
das Cruzadas, seu esposo, Luís IV, faleceu de peste, em Otranto (sul da
Itália). A rainha recebeu a notícia logo após o nascimento de sua terceira
filha, Gertrudes. Dizem seus biógrafos que, ao saber da notícia, Isabel se
desesperou e gritou por todo o castelo que o mundo havia morrido para ela e com
ele levou toda a sua alegria. Passado o luto, seus cunhados, não tendo mais
nada a temer, a puseram para fora do castelo, com seus três filhos e suas duas
criadas, Judite e Isentrude. Foram para o meio da neve, sem nenhum dinheiro ou
alimento. E, para completar seu calvário, o povo que a amava foi proibido, por
ordem do novo soberano, Henrique Raspo, de oferecer qualquer tipo de ajuda, sob
pena de tortura em praça pública.
Lembrando o
fragmento dos Fioretti, cabe aqui pensar que Isabel viveu sua “Perfeita
Alegria”. Com fome e frio, na neve, acompanhada de seus filhos e criadas e sem
um teto, ela não perdeu a confiança em seu Senhor. E Ele não abandona aqueles
que ama. Isabel encontrou abrigo no mosteiro Cisterciense de Kitzingen, na região da
Baviera, cujo abadessa era sua tia Matilde.
Diante de uma
crise, somos chamados a tomar difíceis decisões. Isabel tomou a mais difícil
delas: entregou seus filhos para serem educados pelos seus parentes e, junto
com suas damas de companhia, Judite e Isentrude, tomou o hábito da Ordem
Terceira de São Francisco, para seguir sua vocação de estar junto dos mais
pobres. Foi aí que sua sorte começou a mudar. Ainda segundo os historiadores,
os cavaleiros que acompanhavam o rei Luís IV, ao regressarem trazendo seu corpo
para ser sepultado, tomaram conhecimento da enorme injustiça cometida pelos
irmãos do rei.
Os cavaleiros
enfrentaram os príncipes e exigiram que fossem restabelecidas a Isabel, esposa
do rei, sua herança e a coroa do reino. Seus cunhados pediram perdão e lhe
devolveram tudo. Isabel partilhou a herança entre os filhos e entregou seu
primogênito, Hermano, para que sua sogra, a duquesa Sofia, o criasse para
assumir o trono que era de seu pai. Com
sua parte da herança, foi para a cidade de Marburgo com suas, agora, irmãs
franciscanas e fundou um hospital para os pobres. Ao lado do hospital, ergueu
uma choupana, onde morava com as irmãs e atendia aos mais pobres. Assim, até o
fim de sua brevíssima vida, Isabel, a nobre rainha da Turíngia, mais nobre nas
atitudes e na capacidade de amar, fez sua páscoa definitiva, no dia 17 de
novembro de 1231, com apenas 24 anos.
Hoje, diante de
tantos desafios vividos por nosso povo, num mundo ferido pelas chagas da
violência do mercado, da destruição ambiental, de uma política fascista de morte, travestida
de democracia cristã e de uma agressiva pandemia, que já ceifou inúmeras vidas,
nós, franciscanas e franciscanos seculares, somos desafiados a dar uma resposta
concreta aos mais abandonados da sociedade.
Nesse momento,
me vêm à mente, tantas irmãs e irmãos que testemunham com suas vidas o amor ao
Crucificado, personificado naqueles que sobram numa sociedade de mercado: os
moradores em situação de rua, os negros, os moradores de favela, as mulheres
vítimas da violência, a comunidade LGBTQ+, os imigrantes, as minorias étnicas,
enfim, todos os rostos sofridos que nos remetem à nossa vocação primeira. Faço
memória de Teresa de Calcutá, Pio de Pietrelcina, Oscar Romero, Martin Luther
King Jr, Dulce dos Pobres, Pedro Casaldáliga e tantos outros que ainda estão
entre nós, como Júlio Renato Lancelotti, e tantos anônimos, que não nos deixam
desanimar.
Que Santa
Isabel de Hungria ou da Turíngia interceda ao Pai das Luzes por nossa Ordem
Franciscana Secular, para que tenhamos a coragem de transformar nosso
apostolado no sinal visível da verdadeira Igreja dos Pobres, como nos pede
incessantemente o Santo Padre.
Ernane Mello OFS
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